Dica de Livro: A Arte da Prudência - Baltasar Gracian

Muitos são os livros que dão conselhos e que procuram nos indicar os melhores caminhos a seguir no que diz respeito a nossa forma de agir e de lidar com as pessoas.

Muita divagação e pouca objetividade é o que mais vemos nas prateleiras das livrarias que possam tratar deste tema: relações interpessoais. É muito “achismo”, muita opinião subjetiva e há ainda aqueles que falam aquilo que acreditamos ser o óbvio.

Fico impressionado de observar a grande quantidade de títulos que procuram associar a figura de um grande personagem histórico ou então de um livro às questões de ordem empresarial, porém de forma pouco lapidada, apenas chamativa. Exemplos do que estou querendo ilustrar são: Napoleão CEO, Madre Teresa CEO, A Arte da Guerra na Administração etc.

Esta é uma pequena obra-prima no gênero. O livro A Arte da Prudência foi publicado pelo filósofo e jesuíta espanhol Baltasar Gracián em 1647, com o intuito de oferecer aos homens do seu tempo um guia para ajudá-los a se conduzir nos caminhos da vida, sempre permeados por intrigas, dúvidas e erros.

Comparado a’O Príncipe de Maquiavel, diz-se que recebeu de Friedrich Nietzsche a afirmação: ”…Europa nunca produziu nada mais refinado…”.

E de Schopenhauer:”…Absolutamente único…” 

Boa reputação é o que não falta a este livrinho curto porém condensado com grande sabedoria prática. A Arte da Prudência – Um oráculo de bolso, escrito há mais de três séculos, trata-se de um livro de estratégias que nos ensinam como agir diante das mais diversas porém recorrentes situações da vida. A Arte da Prudência advoga a virtude da prudência e da cautela como recurso essencial de comportamento e convivência em sociedade, e à sobrevivência em um mundo muitas vezes hostil. Com trezentos aforismos, apesar de já ter três séculos de existência, ainda é extremamente atual e moderno. Cada um dos 300 aforismos traz um conselho aplicável a situações concretas e ensinamentos essenciais para a vida pessoal e profissional. É como um exercício de visualização das consequências de nossos atos. 

BIOGRAFIA DESTE GRANDE HOMEM: Baltasar Gracián y Morales nasceu em Belmonte de Catalayud, em 1601. Ainda jovem, aos 18 anos, ingressou na Companhia de Jesus e pouco tempo depois, em 1641, já era considerado um pregador de renome.

Com destaque, passou a ser reitor dos colégios Jesuítas de Tarragona e Valência. Além da teologia, foi ligado à literatura e à filosofia, escrevendo seis livros.

Algumas das obras de Baltasar foram sobre a arte da escrita e outras sobre a ética da vida, essas últimas foram publicadas usando um pseudônimo. Quando esses livros sobre ética tiveram sua verdadeira autoria descoberta, Baltasar foi punido com a proibição de publicar seus escritos e a também perdeu a cátedra.

Acreditar que a arte da Prudência do escritor espanhol Baltasar Gracián é apenas mais um livro de auto-ajuda pode ser um grande erro. A obra com seus trezentos aforismos foram criados com o intuito de ajudar aqueles que buscam se destacar na competitiva selvageria que é a condição humana no mundo. A forma de usar a Filosofia nas relações sociais, nunca foi tão perfeita como na visão de Gracián. Por meio de pequenas reflexões, ele conseguiu resumir toda essência do pensamento filosófico, usando-o de forma prática onde se faz mais necessário, na vida diária das pessoas. Sendo chamado de Oráculo-Manual, muitas vezes suas idéias podem ser como enigmas, que exigem muita paciência e inteligência para serem decifrados. Ele acreditava que a prudência começava, quando o individuo compreendesse primeiro o que acontecia dentro dele mesmo, antes de estudar as outras relações. Para se tornar um homem prudente, precisava conhecer suas qualidades e seus defeitos para poder julgar e agir, e assim alcançar a verdadeira felicidade.

Devem-se estudar todas as áreas do conhecimento humano com precisão; buscar entender como funcionam as relações entre os seres humanos, seus desejos, suas angustias, as leis que regem este mundo. Mas quem é capaz de usar todo este conhecimento no dia-a-dia? O homem universal que idealizava Baltasar Gracián era um ser que reunisse todas as qualidades que fazem do homem um individuo completo. Um cidadão, que seria capaz de viver em meio à podridão social, sem se deixar corromper pela corrupção ou vícios. Teria confiança em si mesmo, cultivaria o bom gosto, dedicaria sua a vida ao estudo, tanto dos vivos como dos mortos. Teria a capacidade de com um simples olhar sondar todos os corações, e assim desmascarar suas intenções. Passados vários séculos desde sua criação, a arte da prudência ainda tem um valor inestimável para os tempos em que vivemos. Numa sociedade onde é quase impossível poder confiar em alguém, à prudência é como ter um amigo em que se pode confiar e que sempre vai estar ao nosso lado.

Em minha opinião a obra de Gracián está em pé de igualdade com a obra de Maquiavel “O Príncipe” e também do livro “As 48 Leis do Poder”, de Robert Greene (A Arte da Prudência influenciou bastante o livro do Robert).

Ambas são obras que possuem um cunho social, filosófico, moral e políticos extremamente fortes e todos aqueles que se pretendem sempre estar se desenvolvendo no caminho da liderança (seja ela qual for) deveriam ter estas duas obras em mente, seja para contestá-las seja para utilizá-las de forma conveniente, pois como já aludi, são obras que estão marcadas pelo tempo e pelo contexto em que foram escritas, mas certamente podem lançar luz sobre uma série de aspectos que precisem de nossa decisão, que precisem de nossa avaliação no que diz respeito às relações interpessoais.

Mais alguns dos 300 aforismos deste homem sábio:

#1 - Conhecimento e coragem se alternam na grandeza - Sendo imortais, imortalizam. Você é o tanto quanto sabe, e se for sábio é capaz de tudo. Homem sem saber, mundo às escuras. Discernimento e força; olhos e mãos. Sem valor, a sabedoria é estéril;

#2 - Associar-se àqueles com quem pode aprender - Seja o convívio amigável uma escola de erudição e torne a conversação instrutiva. Faça dos amigos professores e combine a utilidade da aprendizagem com o gosto da conversa;

#3 - Saber esquivar-se - Para ser prudente, não basta não se intrometer nos assuntos alheios: é preciso também impedir os outros de se intrometer nos seus;

#4 - Saber esperar - O tempo e eu enfrentamos quaisquer outros dois;

#5 - Prevenir-se dos boatos - É muito fácil adquirir uma má reputação, pois o mal é bem aceito, e é difícil apagá-lo. Quem é prudente evite tudo isso, e fique de olho na insolência vulgar; pois é mais fácil prevenir do que remediar;

#6 - Não falar sobre si mesmo - Ou se gabará, o que é vaidade, ou se criticará, o que é humildade;

#7 - Nunca se queixar - A queixa traz descrédito. Querendo remédio ou consolo, suscitam complacência e até desprezo;

#8 -  Selecionar os amigos - Somos julgados pelos amigos que temos, e os sábios nunca se dão com tolos

#9 - Não ser provocador - Comprometendo a si ou aos outros. Há quem seja um tropeço para o próprio decoro ou para o alheio.

#10 - Não seja intrometido - E nunca será desrespeitado. Chegue desejado e será bem recebido. Nunca venha a menos que chamado, nem vá a menos que enviado.

Frase do Dia: 

Abraço do Gari.