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terça-feira, 10 de outubro de 2017

História é Vida: Carlos Martel - Herói da Cristandade e salvador da Europa

Sou fissurado e muito apaixonado por História do mundo em si. Em alguns posts, colocarei fatos ocorridos ao longo de milênios e séculos sobre a transformação política, social, econômica, e religiosa  do mundo antigo, medieval, moderno e contemporâneo. Se não fosse por Carlos Martel, provável que todos daqui da blogosfera seriam muçulmanos. 


                                                        Estátua de Carlos Martel - o herói dos francos.

Em 732 a situação da Europa inspirava as piores apreensões. À anarquia feudal somavam-se as invasões. Pelo Norte, em geral por via marítima e fluvial, os vikings desciam saqueando, incendiando e massacrando cidades e campos.
Da Europa Oriental vinham os saxões e ainda outros povos bárbaros ávidos de sangue e destruição.
A estes temíveis perigos vieram se somar um novo inimigo que entrava pelo sul.
Os muçulmanos tinham invadido a Espanha com velocidade fulgurante. Ébrios pelas vitórias atravessaram os Pirineus. Fazendo imenso botim e escravizando as populações chegaram até o coração da França.
A França, a “filha primogênita da Igreja”, por sua vez, era o coração da Cristandade em formação.
Os reis francos, da dinastia merovíngia, encontravam-se em grande decadência e não deram sinais de reação.
Foi então que se acendeu uma nova estrela no firmamento da Cristandade.
Seu nome foi Carlos Martel (688-741), filho do nobre Pepino de Herstal, nascido na Valônia, hoje Bélgica.


Carlos Martel desempenhava a função de “prefeito de palácio” do reino franco do Oriente desde 717, e a partir de 731, da totalidade dos três reinos em que se dividiam os francos. De fato, desde essa posição governava o país.
Seu nome encheu-se de glória pela vitória na Batalha de Poitiers (por alguns chamada de Tours) a meio caminho das duas cidades.
Nela, o herói Carlos Martel quebrou o ímpeto muçulmano e por isso é justamente considerado o salvador da Europa face ao expansionismo islâmico.
                                                  Carlos Martel com seu famoso martelo que trucidava seus inimigos.

Da decisiva batalha de Poitiers (732) resta uma crônica árabe, de autor anônimo. Por certo, para o autor tratou-se de um desastre irrecuperável, lembrado com pesar.
O cronista islâmico narra assim o entre-choque bélico:
“Os muçulmanos golpearam os seus inimigos e atravessaram o rio Garonne, assolando o país e levando inúmeros cativos.
“Aquele exército passou por todos os lugares como uma tempestade devastadora. A prosperidade tornou esses guerreiros insaciáveis.
“Ao cruzarem o rio, Abderrahman arruinou o condado. O conde refugiou-se em sua fortaleza, mas os muçulmanos avançaram contra ele e, entrando à força no castelo, mataram o conde. Para tudo cediam suas cimitarras, que eram ladrões de vidas.
“Todas as regiões do reino dos francos temiam aquele exército terrível, assim, os francos recorreram a seu rei Carlos Martel e lhes contaram sobre a destruição feita pelos cavaleiros muçulmanos, e como subjugaram, ao atravessarem, toda a terra de Narbonne, Toulouse e Bordeaux. Eles também relataram a morte do conde.
“Então o rei alegrou-os, declarando que iria ajudá-los…
“O rei montou em seu cavalo, e levou um exército que não pode ser contado, e dirigiu-se contra os muçulmanos. Ele os encontrou na grande cidade de Tours.
“Abderrahman e outros cavaleiros prudentes viram a desordem das tropas muçulmanas, que estavam pesadas devido aos espólios de guerra; mas eles não se aventuraram a desagradar os soldados ordenando que eles abandonassem tudo, com exceção de suas armas e cavalos de guerra.

Carlos Martel sendo saudado pelos seus soldados.

Abderrahman confiou no valor dos seus soldados e na boa sorte que estava lhe acompanhando. Mas a falta de disciplina é sempre fatal aos exércitos.
“Assim, Abderrahman e suas hostes atacaram Tours para ainda adquirir mais espólio. Eles lutaram contra esta cidade tão ferozmente que a fúria e a crueldade dos muçulmanos para com os seus habitantes da cidade eram como a fúria e crueldade de tigres raivosos.
“Eles assaltaram a cidade quase diante dos olhos do exército que veio salvá-la. Era manifesto que Deus iria castigar tais excessos; e a sorte logo virou-se contra os muçulmanos.
“Próximo ao rio Loire, os dois grandes exércitos, de duas línguas e de dois credos, estavam em ordem, um frente ao outro.
“Os corações de Abderrahman, de seus capitães e de seus homens estavam cheios de ira e orgulho, e eles foram os que primeiro começaram a lutar.
“Os cavaleiros muçulmanos dirigiram-se com ferocidade contra os batalhões dos francos, que resistiram virilmente. Muitos caíram mortos de ambos os lados, até o pôr do sol.
“A noite separou os dois exércitos: mas ao amanhecer os muçulmanos voltaram à batalha. Os cavaleiros logo chegaram, sem muito esforço, no centro do batalhão cristão.
“Mas muitos dos muçulmanos estavam temerosos pela segurança do espólio que tinham armazenado em suas barracas.
Carlos Martel montado em face a face com Abderrahman Al Ghafqi (direita). Óleo do barão Charles Guillaume Steuben (1788 – 1856). Sala das Cruzadas, Versailles.

“Um falso grito surgiu nas suas fileiras, alertando que alguns dentre os inimigos estavam saqueando o acampamento; o que levou vários esquadrões da cavalaria muçulmana a voltarem atrás para proteger suas barracas.
 “Porém, parecia que eles estavam fugindo dos cristãos e todo o exército muçulmano ficou preocupado.

“E enquanto Abderrahman se esforçava para controlar o tumulto e conduzir os seus homens novamente para a luta, guerreiros francos o cercaram e ele foi perfurado por muitas lanças, de forma que morreu. Então todo o exército muçulmano evadiu-se ante o inimigo e muitos morreram na fuga ...”

“A batalha de Tours, ou Poitiers, como deveria ser chamada, é considerada como uma das batalhas decisivas da história mundial. Ela decidiu que os cristãos, e não os muçulmanos, seriam o poder dominante na Europa.



Carlos Martel é celebrado especialmente como o herói dessa batalha”, escreveu John H. Haaren, no livro “Famous Men of the Middle Ages”.

                                               Túmulo de Carlos Martel na abadia de Saint Denis- Paris.

Ainda posteriormente seu neto, Carlos Magno faria uma incursão militar na Espanha e trucidaria as últimas posses islâmicas na França.

O território francês foi fonte continuada de cruzados e monges que cooperaram com os reis da Espanha e Portugal para banir o Crescente da península ibérica.

Carlos Martel recebeu do Papa Gregório III o título de Herói da Cristandade. Ele foi sepultado na abadia de Saint Denis de Paris, necrópole dos reis da França.

Esta batalha é citada como sendo o marco do final da expansão muçulmana na Europa medieval. O exército franco postou-se junto à cidade de Tours, para sua defesa. O ataque muçulmano foi rechaçado, com a morte de seu comandante, junto à cidade de Poitiers.

(Fonte: Edward Creasy, “Fifteen Decisive Battles of the World”, New York, E. P. Dutton & Co., s/d, p. 168-169; traduzido e adaptado por Profa. Dra. Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ), in História Medieval.

Música instrumental da idade média:  

Abraço do Gari.

12 comentários:

  1. Que legal. Gostei da ideia dessas histórias

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    1. Todo mês devo postar 1 ou 2 fatos e biografias na parte histórica do mundo. Abraço

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  2. Tem em filme ou documentário? Tá foda, não consegui ler nada a dislexia tá matando. O pouco que consegui entender me pareceu bem interessante.

    Já viu o ultimo vídeo do Brasil paralelo falando da história de Portugal? Muito foda.

    Abraços!

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    1. Já vi sim. Muitoo bom!!!! Se voce gostou da história do Carlos Martel, verás sobre seu neto, Carlos Magno, o maior rei do império carolíngio.

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    2. Eu dividi o curso com alguns amigos. Vale a pena, bastante material de qualidade. Destaque pro Olavo de Carvalho, sempre.

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  3. Charles Martel, também fiz uma pequena homenagem em meu blog uma vez a este grande homem. A ele atribuem ter criado a cavalaria pesada, que expulsou os vikings vagabundos escravagistas e a corja muçulmana.

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    1. Se não fosse por ele provável que estaríamos hoje rezando em direção a Meca. Sou fã de história, principalmente de pessoas como Carlos Martel, Carlos Magno, Julio Cesar, Otávio Augustus, etc.

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  4. Salve, Gari! Também gosto muito da História de Carlos Martel. Não conhecia essa crônica, muito boa, desconhecia o fato que os sarracenos recuaram por causa da ganância deles.

    Abraços!

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    1. Abraço colega.. Ao longo do tempo colocarei alguns fatos históricos interessantes. Abraço

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  5. Eu li uma vez uma discussão que mesmo que os francos tivessem perdido essa batalha, seria improvável que os árabes conseguissem avançar Europa adentro por conta da diferença de terreno. Pode ver que todos esses impérios gigantescos de antes da idade moderna (Mongol, Russo, Árabe, Persa) só tem tamanho porque o terreno é de planícies de estepes ou desertos, enquanto que a Europa é cheia de florestas densas e terrenos montanhosos, e os romanos só conseguiram se expandir tanto porque os inimigos deles eram um bando de índios europeus.

    Mesmo que não tivesse acontecido a expansão árabe pela conquista, ainda assim o Islã poderia ter tido uma trajetória bem diferente da que teve na nossa linha do tempo, e as possibilidades são inúmeras. De todo modo, a Cristandade não depende do Ocidente pra existir: os russos, os gregos, os armênios e até os etíopes continuariam sendo cristãos. O islamismo poderia nunca ter entrado na idade das trevas e continuaria sendo o portador da tocha da ciência no mundo como foi durante a idade média. A América demoraria mais pra ser descoberta, e a ocupação dela teria tomado um rumo totalmente diferente, talvez desse tempo de impérios como o Inca e o Asteca desenvolverem a metalurgia e se defenderem melhor de uma invasão.

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    1. Concordo com vc Anonimo!!! Nesta epoca, na minha opiniao, o povo islã estava muitos anos na frente no quesito da medicina. Muitos médicos importantes deste período eram árabes. Tirando isso,caso tivessem derrotado Carlos Martel na batalha de poitiers, provavelmente a expansao marítima comercial seria bem mais tarde.

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  6. Simplesmente sublime! Que os europeus da atualidade se lembrem de karl Martel! Deus vult!

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